Destaques

18 de julho de 2016

Bate-papo | Ludmila Clio, autora de "Sem Filtro na Veia"

Olá, leitores.

No bate-papo de hoje, vamos conversar com a Ludmila Clio. Para quem não conhece, Ludmila é autora de Sem Filtro na Veia e acabou de lançar seu segundo livro de poesias, o "Febríssima", pela Chiado Editora. Em breve, esse segundo livro da autora estará resenhado aqui no blog, enquanto isso vocês podem conferir na entrevista alguns detalhes sobre ele. Então, vamos começar o bate-papo?


Nos fale um pouco de você.

Nossa... Já começou à queima roupa!!! 

Creio que já me exponho demais por escrever, já que não finjo, não minto o que sinto. Então, sendo bem sucinta e um tanto redundante, sou simples, gosto de desafios, de gente que lê entrelinhas e gosta de coisas aparentemente bobas _as mais caras, sempre. Gente humilde ganha para sempre o meu coração, arrogância não tem vez. Não tenho paciência com gente melindrosa, chorona. E também detesto me sentir controlada, presa. Isso é bonito de ler, mas quase impraticável para conviver. Liberdade é o anseio de todo ser humano, mas é sempre seu maior medo também, uma pena.



De onde surgiu o desejo de ser escritora?


Não faço ideia! Nunca foi um desejo propriamente dito. Eu simplesmente comecei a escrever para aliviar minhas angústias, expulsar meus fantasmas interiores. O “ofício” aconteceu meio que naturalmente, fui cobrada por quem me lia a levar isso a sério. Hoje em dia eu levo, mas no princípio, não. 


Acredito que escrever poesias requer muita sensibilidade e reflexão. De onde você tira inspiração para escrever seus escritos? 


De qualquer lugar. Meu conterrâneo Newton Braga traduziu perfeitamente meu sentimento quando disse: “Essa sensibilidade que é uma antena delicadíssima, captando pedaços de todas as dores do mundo, e que me fará morrer de dores que não são minhas.” Sinto dor com a dor do outro, minha empatia é exagerada. Posso assistir ao jornal e ficar encharcada de sentimentos para escrever, posso ouvir uma conversa no ponto de ônibus e absorver alguma frase de uma maneira tão intensa, que acabo precisando escrever a partir dela. Acredito que as pessoas fantasiam um pouco o olhar do poeta e o veem como aquele sujeito fantasioso, que tem brilho nos olhos sempre e vê beleza em tudo. Isso não existe, é fantasia. O poeta é um desgraçado que sente tudo com mais veemência e violência, que precisa escrever para se livrar de uma dor. Já escrevi sobre isso algumas vezes. Essa sensibilidade poética, que enche os olhos da maioria das pessoas que conheço, essa mesma sensibilidade eu trocaria sem pensar por um coração raso, que não sente o quanto é vil esse mundo em que estamos fazendo de conta que vivemos. Perceber, sentir é um castigo. Não há romance algum em ser “antena delicadíssima”. Isso acaba me isolando muito das pessoas. 


Você se dedica a escrever apenas poemas? Já pensou em escrever outros gêneros?


Às vezes me arrisco numa crônica, numa crítica social. Foi assim que comecei a me mostrar, em um jornal da minha cidade, em Cachoeiro de Itapemirim/ES, ainda adolescente. Mas me sinto realmente à vontade é com poesia. Outros estilos são bem pontuais, acontecem em decorrência de um determinado evento: eu reclamo, critico, desabafo e passa. A poesia não, sinto que estou nela e ela em mim o tempo todo, mesmo nos hiatos, naqueles períodos estéreis em que nada me inspira. É desolador quando fico assim, mas passa. Sempre passou.



Quais as características mais presentes nas suas poesias? 


Essencialmente um culto à liberdade, à entrega, ao risco. Como disse inicialmente, a liberdade é um tema que todo mundo tem na boca, mas o que eu mais conheço é gente mal casada que não toma uma atitude por si mesma, é gente infeliz no emprego que tem que não pede demissão e não se arrisca, é gente que detesta a cidade em que mora, mas não vai embora porque tem síndrome de árvore. Oras!! Eu já viajei só com o dinheiro da ida, já pedi demissão de emprego que me inspirava depressão sem ter a mínima perspectiva de outro, já gastei todo o meu dinheiro num almoço farto sem poupar moedas para um pão mais tarde, e daí me chamam de doida! Mas quem é doido em todas essas telas que expus, se só temos essa vida? 


Você pertence a alguma escola literária? Tem preferência por alguma?


Falo isso no prefácio do Febríssima. Tenho pavor a rótulos, em quaisquer esferas. Não, não pertenço à escola alguma e não tenho preferência por nenhuma. Se a poesia me fizer arrepiar, vou gostar dela, independente da escola a que ela pertença. 


Vinícius de Moraes, Gonçalves Dias e Ferreira Gullar são escritores que admiro muito, em especial os dois últimos pelo fato de serem meus conterrâneos. Você tem algum escritor que te inspira? Se sim, de que forma ele influenciou, ou influencia nas suas obras? 


Meus amores são Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Rubem Alves e Charles Bukowski. Clarice porque tudo que leio dela me dá a sensação de estar falando de mim, ela é a maior, me traduz e me entende em tudo! Fernando pela sua genialidade, o vejo como um homem sensível e de uma inteligência minuciosa, um homem agridoce. Rubem pela sua humildade infinita, em falar de coisas tão simples de uma maneira tão rica e mansa; e Bukowski com toda a sua neurastenia e aversão ao sistema, me dá a certeza de que seríamos amigos e passaríamos horas a fio bebendo e odiando esse sistema maldito em que nada de realmente belo _como um dia de Sol_ é apreciado. 


Recentemente, você participou do 15° Concurso Nacional de Poesia de Portugal. Como surgiu essa oportunidade? Poderia nos contar um pouco dessa experiência? 


Foi uma loucura em que eu não deveria ter me metido! Digo isso porque participei do 14º Concurso em 2014, ano em que pude me dedicar a isso, e me dediquei. Éramos 71 concorrentes e terminei em 7º lugar. Já em 2015, eu estava completamente comprometida com a edição do Febríssima, meu 2º livro de poesias, então foi uma insanidade ter me inscrito nessa edição porque eu estava a milhões, em franca ansiedade com o livro e precisava me desacelerar brutalmente para escrever durante 10 semanas sob 10 temas diferentes para o Concurso. Ainda assim terminei em 9º lugar, mas céus!! Onde eu estava com a cabeça? 
Minha mãe mora em Portugal desde 2007, foi ela quem me indicou para participar do Concurso. Da segunda vez eu me inscrevi por conta própria. Louca!


Sobre "Sem Filtro na Veia". Qual foi a sensação que você teve ao ver esse primeiro livro sendo publicado?


Sensação de “já era, não dá para voltar”. Foi uma exposição muito grande do que eu guardava a sete chaves, de repente convivi com pessoas citando uma frase ou outra nas redes sociais, compartilhando poemas inteiros, me mandando mensagens dizendo “olha, você me descreveu, é exatamente isso que eu sinto, obrigado”. Estranho, muito estranho. Se escrevo para me livrar de coisas minhas, como pode alguém agradecer por ter lido aquilo e se reconhecido? E ao mesmo tempo me coloco como leitora da Clarice: não é exatamente essa a sensação que tenho quando a leio? 
Mas agora é impossível retroceder. E eu nem quero isso, nunca quis. Sigamos.


E qual foi o feedback dos seus leitores em relação a essa primeira publicação? Ainda nesse contexto, como você lida com as críticas? Sejam elas positivas ou negativas. 


Surpreendentemente recebi críticas de empatia, como disse. Isso me assustou bastante porque o que mais recebi foram mensagens dizendo que as pessoas se sentiam traduzidas e aliviadas por isso. Mensagens de gratidão. Até hoje não ouvi nada negativo acerca do Sem Filtro na Veia, a não ser de mim mesma, a pessoa mais autocrítica que conheço, rs. Não tenho dificuldades em lidar com críticas negativas. Pode ter certeza de que elogios me deixam muito mais embaraçada.


Você está, atualmente, com uma nova publicação que acabou de sair do forno. Como foi a escolha da capa e do título do Febríssima?


Quanto à capa, eu dei algumas ideias para o Vanz Santos, que ilustrou o livro. Disse que girassóis e folhas secas me representam muito. Os girassóis porque eu sou solar. Adoro dias ensolarados e quentes. Se tiver uma calçada com sombra e uma com Sol, eu atravesso para caminhar na que tem Sol. E as folhas secas porque elas são meu código com Deus. Se eu vir uma folha caindo da árvore, me emociono porque acredito que Deus está vendo-a cair, então é óbvio que Ele está me vendo também. Se der ventania e choverem folhas secas, aí eu sento no meio-fio e choro de verdade, é lindo! 

Mas voltando à capa, o Vanz e eu fomos amadurecendo a ideia até que um dia juntamos duas ilustrações, uma de girassol e uma de fogo. Foi uma epifania, um resultado a quatro mãos, um presente. Quanto ao título, explico no prefácio do livro. Vai ser preciso ler o Febríssima para descobrir!



Como você descreveria esse seu segundo livro?


Mais maduro que o primeiro, muito mais desafiador também. O Sem Filtro na Veia não tinha a responsabilidade que o Febríssima tem, a meu ver. O Febríssima vem com mais cobrança, com mais expectativa, como todo segundo trabalho. Eu ainda estou muito envolvida para falar sobre ele, quero esperar os feedbacks dos leitores. 


O que seus leitores podem esperar da Ludmila nessa nova publicação? 


Tudo. Não sinto medo de desejar a morte quando estou triste, não sinto medo de me atirar do precipício se estou apaixonada. Esses extremos assustam, vamos ver o que os leitores vão achar! Mas por outro lado, creio que quem já me conhece _tanto pessoalmente quanto meu estilo de escrita_ não espera menos de mim. 


Quais são seus planos daqui pra frente como escritora? 


Quero participar de eventos literários, ir a escolas, falar com adolescentes, participar de saraus, de feiras literárias. Quero poder respirar isso, e não, ser escritora apenas nas madrugadas, entre um expediente e outro.

Perguntas rápidas:

Um sonho:
Jogar o relógio fora e viver viajando. Ah!
Uma cor: Azul
Um ídolo: Elvis Presley
Um passatempo: Ouvir música
Uma música: Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos
Uma comida: Mineira
Uma frase: Guiada pelo meu coração vou até ao inferno, sem questionar
Febríssima: É o que me salva desse mundo doente
Ludmila em uma palavra: Febríssima

Siga a Ludmila Clio nas redes sociais


Então, gostaram do bate-papo? E do Febríssima? Deixem suas impressões nos comentários. 
Até a próxima o/

Comentários via Facebook

11 comentários:

  1. Fico tão orgulhosa quando vejo os autores brasileiros ganhando espaço pro aqui <3 Apesar de ainda ser muito dificil conseguir uma editora, as coisas estao sendo mais possiveis :D
    http://b-uscandosonhos.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Além de ser uma linda é super simpática nas respostas.
    Adorei a capa do livro.
    É realmente difícil, entendo os obstáculos quanto ao sucesso, faz parte. Mas aqui no Brasil é muito mais complicado do que lá fora.

    Beijos
    http://revelandosentimentos.blogspot.com.br - Participe do Top Comentarista. Lançamentos da DarkSide e da Arqueiro. Você escolhe qual quer ganhar.

    ResponderExcluir
  3. Olá,
    Eu adoro conhecer novos autores, principalmente nacionais. Essas entrevistas dá vontade de ser amigo deles, né? HAHHAHA
    Parabéns pela parceria!
    Beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Adorei a entrevista! Ludmila como sempre exalando poesia até quando concede entrevista.
    É maravilhoso ler tudo o que ela escreve!
    Parabéns pelo blog! :)
    Abraços! Tamara
    Blog Tamaravilhosamente

    ResponderExcluir
  5. Adorei a entrevista! Muito simpática a autora, ela abraça a poesia com tudo de si. Desejo muito sucesso pra ela!

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Oii!
    Ainda não conhecia a autora, mas adorei a entrevista!
    Fiquei com vontade de conhecer as poesias da Ludmila.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

    ResponderExcluir
  7. Olá, tudo bom? Parabéns pela parceria! A entrevista ficou ótima *_*

    Beijos
    http://resenhaatual.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  8. Oiee!!
    Arrasou! Sucesso na parceria.
    Eu gosto tanto de escrever que amo parar pra ler as entrevistas desse povo que também tá "começando". Adorei!

    Bom final de semana ;)
    Beijinhos :*
    Thay - Sankas Books

    ResponderExcluir
  9. Olá! Adorei a entrevista, a autora parece ser muito simpática <3 E seu blog é muito lindo, amei!

    Beijinhos,

    Bia - Blog Escrevendo Mundos

    ResponderExcluir
  10. Gostei de conhecer a autora, e fico feliz em ver que ela está publicando seu segundo livro. Que venham muitos outros \ooo/ Entretanto, por agora, eu não leria. Sou sou muito adepto de poesias e poemas, mas quem sabe futuramente, né? uehueh

    Abraços,

    Blog Decidindo-se \o/

    ResponderExcluir
  11. Oie, oie, oie !!!
    Eu adoro essas entrevistas, esse bate-papo com autores !!! É sempre uma forma bem bacana de conhecer um pouquinho mais sobre cada mente que nos maravilha com histórias, textos ou poesias incríveis !!!
    Adorei o jeitinho da autora, gostei de ver mais de uma foto dela ao longo da postagem pois acredito que assim podemos ver um pouquinho mais do que aquela foto de apresentação !!! Também amei conhecer a letra dela, gente, que letra linda !!! ^^
    Enfim, adorei conhecer a Ludmila !!!

    Beijinhos
    Hear the Bells

    ResponderExcluir

Publicidade

© Tudo Online – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in